domingo, 25 de fevereiro de 2007

Fotos - Parque del Buen Retiro hoje

Palácio de Cristal








Como botões da primavera que está chegando (já dá pra sentir isso na terra, no tipo de luz de fim de inverno, no cheiro da grama...)

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Visita ao Museu do Prado

Detalhe de "O jardim das delícias", de Bosch;

"Las meninas", de Velazquez.
... Tem quadros que por um instante bem fugaz (não é algo assim fácil de sentir, e não é um sentimento segurável, perene) levam mesmo a gente prum outro universo, prum outro mundo é como se você pudesse sentir o cheiro. "Las Meninas" mesmo é assim (e também os quadros de Rubens, muito), se você se põe diante dele um pouco, então pode ver a dama de companhia curvar-se levemente em saudação, e a infanta Margarida te olhar de perto, curiosa, altiva, tão aristocrata que é como se a invasão perpetrada pelo observador nesse seu momento de intimidade palaciana não lhe fizesse a menor diferença, e o peso dos séculos fosse tão ínfimo quanto a espessura da capa de tinta que cria essa maravilha...
Sim, tem quadros que te transportam, e não é porque você viaja nas imagens como se estivesse vendo um domentário, acompanhando... é porque a imagem do quadro, num instante mesmo, faz despertar alguma coisa que estava adormecida dentro, imagens próprias, e sons e sabores e cheiros e sonhos... o quadro te transporta nesse instante pra dentro de si mesmo, e às vezes você tem até que fechar os olhos pra enxergar melhor. E então é como se você também tivesse pintado, ou tivesse estado ali, no momento mesmo da primeira, ou da última pincelada... quando o pintor suspira satisfeito porque metade do trabalho está completa... o resto caberá a nós e aos futuros... ao futuro...
Mudando de assunto (mas dessa vez na verdade ficando no mesmo), duas lições dos autores dos quadros que estão aí em cima:
Bosch, entre tanta coisa, é uma lição de como colocar em imagem concreta uma idéia abstrata. Pra isso vale a pena o quadro que mostra os sete pecados capitais. É fantástico. A cena é figuração concreta de uma idéia em si abstrata, e é esse o fascínio. Curiosos, queremos ver, como será que ele representou esse tal pecado, e esse? E nos perguntamos depois (pagãos ou ateus que já somos), como seria a representação concreta, exemplar, de (um) amor? Ou saudade, ou alegria? Ou uma alegria séria de mulher que entra no mar de madrugada (acabo de ler um livro da Clarice, daí essa imagem)? E então, pra responder a essas perguntas, logo ali está "O jardim das delícias" (um sonho)... e no museu ao lado, Dalí.
Velazquez, é de uma força arrebatadora. Uma lição de cinema, na verdade (quem viu, sabe que não estou louco), porque mostra como contar uma história inteira em uma única cena. Sim, há outros que também o fazem, mas Velazquez mais, e não só com "Las meninas", com tantos outros quadros, você vê a cena acontecendo, você vê o antes e o depois e a vida toda daquela gente numa única cena. Filho da p... Um gênio.
E ainda (pra acabar que já é tarde), um detalhe interessante, esse principalmente pra quem vem de fora, é reconhecer naqueles quadros rostos como os que você veria no metrô (ou talvez admirando o quadro ao seu lado). Não só nos traços físicos, idênticos aos de rostos daqui, vistos todo dia... mas nas expressões, o que é o mais impressionante. Fico me perguntando: se o rosto (ou os olhos como se costuma dizer) são a janela da alma, são a fonte maior de nossa expressividade, então nossas almas não mudaram nada de lá pra cá? Por que, ainda que vivamos em um mundo completamente diferente (será que tão completamente?), aqueles rostos são tais que é como se estivessem do nosso lado, como se sentissem e pensassem igual? Então tem alguma coisa que vai além dessa nossa identidade histórica e limitada no espaço e tempo, o humano tem muito que independe disso tudo...
Vendo esses quadros, parece que sim...

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Mais um música

Essa eu lembrei hoje de manhã e cai em lágrimas rsrsrsrs. Lembrando do tempo em que não queria de jeito nenhum crescer (com uns 8 anos, acho). Depois mudei de idéia, e olha no que deu...
as crianças são tão sábias...


João e Maria
Chico Buarque de Holanda


Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões, os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque e ensaiava o rock para as matinês
Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei a gente era obrigado a ser feliz
E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país
Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião, o seu bicho preferido
Vem, me dê a mão, a gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido
Agora era fatal que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá desse quintal era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?

Sobre Madri (e a Espanha)

Escrevi isso pro meu vô, e já que ele concorda com o que está dito, divido com vocês. É muito como tenho sentido a cidade no geral:


Ahora sí entiendo muchas cosas mejor, como has dicho... las marcas de la pérdida de raíces se sienten a lo largo de generaciones, sí.

(...) hoy la capital es la junción de un universo de personas buscando desesperadamente raíces, no sus raíces (como en la frase del diario sobre ti), pero alguna raíz o acogimiento, ya que las suyas se han transformado en quimera, en memoria. músicas con un sabor antiguo de pueblo medieval se nos entran por los oídos en segundos en un vagón del metro, junto con los sonidos high tech que se pueden adivinar en los headphones de los pasantes solitarios... al mismo tiempo se puede oír un infinidad de lenguas. un caldo de miradas, olores y voces de miríadas de referencias, todas de alguna manera marcadas por un mundo que a todo transforma en fast food, en imagen bidimensional. El mundo está todo aquí, no porque hay gente de todo el mundo, sino porque se siente en la atmósfera la nostalgia difusa de esos lugares lejanos, perdidos. Y nos vemos todos herederos de las mismas guerras interminables, de los mismos errores, afectos, sueños.

(Y se encuentran todos en el Retiro en un domingo, y vemos colores de arco iris en las fuentes bajo el sol)

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Uma música

Ouvi essa música em diferentes épocas, e hoje ela ainda faz todo sentido. Parece que está falando de mim (quem me conhece vai reconhecer), ou pra mim. Enfim, fiquei com vontade de colocá-la aqui.


No Pressure Over Cappuccino
Alanis Morissette


And you're like a 90's Jesus
And you revel in your psychosis
How dare you...
And you sample concepts like hors d'oeuvres
And you eat their questions for dessert
and is it just me or is it hot in here?

And you're like a 90's Kennedy
And you're really a million years old
You can't fool me
They'll throw opinions like rocks in riots
And they'll stumble around like hypocrites
and is it just me or is it dark in here?

Well you may never be or have a husband,
you may never have or hold a child.
You will learn to lose everything,
we are temporary arrangements.

And you're like a 90's Noah
And they laughed at you as you packed all of your things
And they wonder why you're frustrated
And they wonder why you're so angry
And is it just me or are you fed up?

"...And may god bless you in your travels in your conquests and queries..."

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Tanta coisa...

Detalhe do jardim interno do Museu Reina Sofia (quis mostrar essas convivência entre a escultura antiga e a moderna, atrás... mas não sei se rolou muito bem nessa foto rsrs)


Pedaço da fachada da Bibliotca Nacional
Putz nem dá pra contar muita coisa desses meus últimos passeios. Fui no sábado numa meditação zazen aqui e encontrei uma amiga que me levou a uma exposição de desenhos de crianças feitos durante a guerra civil. Uma coisa forte demais, contundente demais... tinha desenhos da vida cotidiana antes da guerra também, o que impacta mais ainda... pensar no que foi perdido e que de certa forma é irrecuperável... e ainda desenhos de hoje, de crianças obrigadas a participar da guerra em Serra Leoa... que perderam tudo... talvez até os sonhos, a esperança que é o mais imprescindível pra seguir vivo...
Depois ainda vi o Guernica, ao vivo, na minha frente, no Museu Reina Sofia. Tive que fechar os olhos em alguns momentos diante dele, pra poder ver melhor...

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Cositas

Faculdade de Psicologia da UCM (onde estudarei nos próximos meses)


E essa é só mais uma foto de um lugar bonito no centro de Madrid (acho que é um teatro, mas no me enteré bien rsrsrs)

E, bom, detalhinhos bonitinhos do meu cotidiano:
1. A estação de metrô que vem logo depois da minha se chama Delícias... é às vezes a primeira palavra que ouço no dia... rsrsrsrs
2.O meu celular alugado me acorda com uma musiquinha de harpa... e eu que estava acostumado a pular da cama...
3. A amiga argentina, Amália, me perguntou: o que é afinal "saudade"?... Ai, ai...

As horas

...É nas horas vazias de um dia comum, quando já não temos mais afazeres e compromissos, quando ainda mal sabemos o que seria um hábito, um hobby, um sair com amigos... quando, extrangeiros, mal construímos um lugar nesse novo mundo (sim, quando estamos ainda nessa ante-sala de quem somos), que nos vemos espontaneamente a perguntar: afinal que tenho feito eu de minha vida? de que maneira tenho me inventado e aproveitado minha liberdade?
Porque nessas horas (que ainda podem ser acentuadas por um pôr de sol agudo, laranja, como aqueles que motivaram pintores a fazer quadros como "o grito" ou aqueles corvos negros num trigal amarelo...) nos vemos, querendo ou não, inexoravelmente livres.
Só que - isso ninguém nos avisa com antecedência -, ver-se livre é ver-se pisando num vazio ou, em outras palavras, sem nada pra pisar. E então, com medo desse vazio, vamos preenchendo-o com imagens do que seria essa liberdade, e logo temos pronto um papel e um texto pra representar. E podemos representar até mesmo o papel de pessoa livre, a que se reinventa o tempo todo... o papel que for, pra não precisarmos tocar a ferida de uma liberdade mais fundamental e indizível...

Aqui eu percebo mais claramente a tentativa incessante do homem ocidental de domesticar esse vazio. A cada coisa acidental que acontece, cria-se um novo programa de ações preventivas e novas tecnologias pra evitar que se repita. E assim temos um mundo cheio de precauções. Ordenadíssimo.
No entanto, nossa condição se baseia, queiramos ou não, nesse vazio fundamental, nesse vazio fértil que é a realidade que se insinua nos entremeios do tempo dos afazeres e dos relógios...
É nesse vazio que se gesta o surpreendente, o que foge às regras, o que nenhuma teoria é capaz de prever ou explicar; é desse vazio que nascem as surpresas. É a partir dele que criamos.
Nele mora nossa liberdade inexplicável...

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Espaço (2) e uma argentina muito legal


Recomendo a todo mundo a experiência de morar um tempo em outra cidade... porque nos permite (bom, entre tantas outras coisas) perceber o quanto nos definimos também pelo espaço em que estamos. E é muito louco não ter nenhuma das referências espaciais conhecidas e ir descobrindo-as e criando uma mapa mental próprio do lugar onde se está (e ir desenhando nesse mapa onde está o supermercado mais barato, um bom lugar pra sentar, o jeito mais fácil de chegar ao metrô... ou o mais difícil, mas mais bonito rsrs).
E saímos meio renovados também, porque afinal vamos tendo de criar novos nortes, novas diretrizes da caminhada.
Nesse processo ainda ando meio perdido, mas me tenho permitido experimentar a cada dia novos caminhos... (hoje mesmo andei muito mais pra chegar a uma estaçao insuspeitada, mas conheci vias novas... o que é sempre bom)

Y bueno, mudando de assunto. Gracias a la música, porque é o que me tem permitido fazer mais amigos. Foi assim na faculdade (conheci o Dani e a Inés porque estavam tocando um tambor e uma flauta) e agora no metrô, conversei com uma argentina muito simpática. Cantava fados e boleros e música brasileira bem no meio da estação. Tocava o coração, juro, fiquei bem impressionado com a voz dela. Ficamos bons amigos, "como si nos hubieramos conocidos hace años", como ela disse.

Bom, em cima está a foto de um prédio no centro de Madri, já que essas fotos têm feito mais sucesso do que eu esperava...

Aulas e Escher


Ontem começaram minhas aulas. Mas acabei só podendo ver uma. Muito interessante, "Psicoanalisis de la Cultura", um tanto ampla demais para o tempo que temos, o que talvez não seja ruim... Enfim, aqui a psicanálise é um campo marginal, com muito pouco do espaço hegemônico que tem em nossa formação no Brasil, mas talvez por isso também eles sejam mais abertos para uma heterogeneidade maior dentro da psicanálise. O diálogo com o budismo, por exemplo, que assuta os psicanalistas brasileuiros mais acadêmicos, aqui é bastante mais natural. É até um dos temas de seminário dos alunos nessa matéria... Vamos a ver...

Conheci também dois espanhóis muito legais, Daniel e Inés...

Aliás, uma experiência muito maluca pra quem fala português e está aqui é conseguir entender perfeitamente o espanhol culto e, portanto, tudo o que falam os professores, mas entender muito pouco da língua coloquias, das gírias e expressões das pessoas em geral. É como conhecer o prefeito de uma cidade mas não poder falar com seus habitantes (que metáfora bizarra, mas é a que me veio à cabeça)... É louco, espeor poder mudar isso logo. Bueno, Dani e Inés já começaram a tentar me ensinar alguns palavrões, mas me esqueci da maior parte rsrsrsr (só me lembro de coño, que afinal usamos muito em casa, no Brasil, também).

Ao final, fui a uma exposição muito especial do M. C. Escher, um máximo! A figura acima é uma das que estavam lá.

Vendo-o, fiquei me perguntando quais dimensões ocultas, misturadas... quais avessos desse lugar se vão abrir ao meu olhar... quais eu poderia alcançar, vislumbrar, visitar...
Já os tenho descoberto, alguns, e Madri vai se tornando muitas, e os sonhos vao surgindo mais claros...

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Tempo

Não sei se já falei algo assim, mas sinto mais e mais claramente esse fio que nos une ao passado, transpassando o tempo e unindo tudo num único instante.
Uma experiência curta, mas forte foi minha breve discussão com o senhor que me hospeda. Um franquista a defender entusiasticamente o "generalíssimo" depois de eu ter contado que meu bisavô fora preso político por suas idéias e sua atuação em prol da república durante da Guerra Civil espanhola...
Falo desse fio invisível, porque aquela discussão era a atualização de um conflito tão mais antigo que eu, como se encenássemos um mito de origem, naquela conversa de certo modo prosaica, à beira de um fogão (enquanto ele cozinhava seu cocido madrileño). É difícil... Agradeço porque o que ficou das narrativas dessa minha origem, isto é, a revolta contra todo tipo de ditadura, de silenciamento (e como estava presente na fala dele uma ode aos silenciamentos políticos), não me incita a raiva ou ódio. Pelo contrário, sentia uma ternura de reconhecer que aquele jeito de pensar, completamente diferente do meu, era tão igualmente humano e plausível. Podia ser uma construção para mim horrível, perigosa, mas igualmente humana...

Viajar me deixa mais sensível a nosso desamparo fundamental, acho, rsrsrs (estou ficando filosófico demais, uma presunção)... construímos tantas ideologias a fim de ter algo em que nos agarrar nessa navegação cujo destino é inescrutável... No fundo - e isso talvez tenha sido o único em que concordamos -, irmãos nunca devem matar irmãos, por mais diferentes que sejam suas idéias ou ideais. Quando isso acontece, já perdemos a razão, em qualquer dos lados...

Mudando de assunto. Admirei demais os amigos do meu primo (e ele tb, obviamente) que conheci. Eles que constrõem uma vida aqui sem auxílio nenhum, vindo pra trabalhar sabe-se lá onde, todo dia... Corajosos. Que realizem os sonhos, como os vi aos poucos fazer...

Enfim...


Penso agora... que já não tenho mais pudor de ouvir dizer (nao importa agora a quem me refiro) que sente orgulho. Não tenho mais sensação de imerecimento, porque entendo que esse orgulho é reconhecimento de uma transmissão; da partilha de dimensões difíceis de precisar mas que constituem pilares fundamentais do que somos. Um orgulho que é na verdade o nome pra uma comunicação silenciosa que nos diz que, nesse plano, o tempo não existe e continuaremos vivos sempre (ou enquanto existirem pessoas), porque o fundamental e misterioso que carregamos permanece naqueles que amamos, a lo largo de las generaciones y existencias personales...

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Espaço

Vista do meu atual quarto (mirando a la izquierda); ao fundo é a torre de um relógio que toca âs vezes.

Vista do meu atual quarto (mirando a la derecha)

A arquitetura das casas, acho, diz muito a respeito da vida cotidiana e dos valores das pessoas. Só pra apontar algumas coisas que são diferentes aqui e no Brasil: a cozinha é muito menor, e não tem área de serviço ( máquina de lavar e secadora ficam na cozinha, que já é pequena). De fato, o limpar a casa parece ocupar muito menos espaço na vida cotidiana aqui em comparação com o Brasil (é tudo super facilitado tb nessa parte, com muitos eletrodomésticos)...
Nesssa cozinha é tudo super compacto, com umas soluções pra aproveitar o espaço que a gente talvez devesse copiar, já que os aps paulistanos estão cada vez menors rsrsrs (se bem que eu eu não tenho o menor olho pra isso). Também não tem mesa na cozinha. Há uma mesa grande na sala de jantar, mas no dia a dia, se come na sala, sentado no sofá, apoiado numas banquetas, viendo a la tele...
Enfim... essa centralidade brasileira da cozinha se perde bem, a sala e a Tv parecem ocupar o lugar antigo da lareira...
Mudando de assunto,
Dois sinais místicos que tive (hum hum):
1. Uma folhinha linda dessas que tem na bandeira do Canadá, caiu bem em cima de mim enquanto eu almoçava umas coockies na Plaza Mayor ontem (deixemos de lado qeue elas são muito comuns aqui... eu adorei a coincidência)
2. Uma mulher no banco, ao ouvir que eu era brasileiro (claro que não foi por causa do sotaque ela reconheceu, é que eu tinha falado com o caixa antes, claro) me perguntou: o que é su-ces-so??? Pois tinha recebido uma carta em Português e não conseguia entender essa palavra.
Eu podia ter dito: é só olhar bem pra mim que você vai entender... Mas como sou uma alma muy humilde, me limitei a dar o significado. !Éxito!

Passeio por Madri (essas fotos sim são de hoje)

Um palácio na Plaza Mayor

Adorei essa...

Puerta de Alcalá

Parque del Buen Retiro



Mesmo parque



Também... é um parque grande, lindo...




Llegada a Madrid!!! (en fin)

Toda partida é também um retorno. Sim, minha busca é pra frente, mas também pro que ficou lá atrás, por meus mitos de origem, as histórias de quem éramos antes de nascer, o que a terra que nutre nossas raízes, o leite que nos fez crescer ainda guardam. É esse sabor, esse cheiro... Espanha, enfim!

"Volver

Música: Carlos Gardel
Letra: Alfredo Le Pera

Yo adivino el parpadeo
de las luces que a lo lejos
van marcando mi retorno...
Son las mismas que alumbraron
con sus pálidos reflejos
hondas horas de dolor...

Y aunque no quise el regreso,
siempre se vuelve al primer amor...
La vieja calle donde el eco dijo
tuya es su vida, tuyo es su querer,
bajo el burlón mirar de las estrellas
que con indiferencia hoy me ven volver...
Volver...con la frente marchita,
las nieves del tiempo platearon mi sien...
Sentir...que es un soplo la vida,
que veinte años no es nada,
que febril la mirada,
errante en las sombras,
te busca y te nombra.
Vivir...con el alma aferrada
a un dulce recuerdo
que lloro otra vez...

Tengo miedo del encuentro
con el pasado que vuelve
a enfrentarse con mi vida...Tengo miedo de las noches
que pobladas de recuerdos
encadenan mi soñar...
Pero el viajero que huye
tarde o temprano detiene su andar...
Y aunque el olvido, que todo destruye,
haya matado mi vieja ilusión,
guardo escondida una esperanza humilde
que es toda la fortuna de mi corazón."

(Tango de Gardel, que conheci por Almodovar... a letra é linda demais)


Sinto-me muito mais em casa, e a língua me parece mais melodiosa, sim, por incrível que pareça (fui muito bem recebido, mas o humor das pessoas na cidade não é dos melhores... também pudera, o clima não está ajudando muito).

Aí em cima está o símbolo de Madrid, fica na Puerta del Sol, primeiro ponto mais turístico que visitei. A cidade é linda!

Até a próxima, Lisboa

Tirei a foto num lugar muito gostoso, ajardinado, no mosteiro, antes que caísse a chuva... Com o cachecol que ganhei (desculpa, Tâ, mas já esqueci como dar aquele nó bonito e ficou assim mesmo como você pode ver rsrsrs)

Torre de Belém (under fog)

Quem disse que eu sou feito de açúcar? Uma chovinha só...
Cheiro de mar... Pessoa, derramei mais algumas lágrimas pra contribuir com o sal do mar português... sim, no seu túmulo, amigo... te senti mais perto... Emoção grande demais!

Mosteiro dos Jerónimos

Um detalhe (o chamado estilo manuelino)


Claustro interno do mosteiro

Uma das portas, do lado de fora


Mais de Lisboa


O post anterior, assim como este, foi escrito bem depois do dia mesmo em que estive mesmo em Lisboa. Na verdade estou escrevendo já de Madri, a posteriori, mas enfim... Eu avisei que esse diário não ia ser muito diário, né?


Visitei o museu Calouste-Gulbenkian em Lisboa no primeiro dia (a foto em cima é de um quadro persa, da época do Rumi - eu trouxe um livro desse poeta comigo rs). Vale muito a pena, um museu belíssimo. Uma experiència à parte foi ouvir as guias explicando pras crianças e adolescentes de uma escola o que é arte contemporânea, os paradoxos...
E no segundo dia em Lisboa (6/02) fui ao bairro de Belém, onde chovia torrencialmente, como disse uma moça numa lanchonete.

O mosteiro dos Jerónimos é uma coisa de louco, lindo! E o pastel de Belém autêntico é imperdível (só ele já vale a visita, mesmo em baixo de chuva). De qualquer forma, o que fica pra mim é que viajar não é como assitir a um belo documentário no aconchego do lar: você está sujeito a ter de ver a torre de Belém debaixo de uma batia chuva e um vento frio terrível. A realidade bate à porta: no percurso de volta, um brasileiro com uma história triste... trabalhadores africanos numa obra...

"Você não está com frio?" pergunto a uma cabo-verdeana sem roupas de frio limpando um vidro (uma amor ela). Os tempos da escravidão já acabaram, mas persiste em certo grau uma divisão racial do trabalho...

Primeiro dia em Lisboa

É que Narciso acha feio o que nao é espelho. Se bem que é impossível achar feio. Lisboa é uma cidade muito bonita. Foi minha primeira impressão da Europa, de modo que vai ficar como um lugar especial... Ponto de partida pros que foram pra minha terra, ponto de chegada pra mim. A cidade é toda marcada pela experiêncas das navegações: nas principais construções, no que fica de memória, nos simbolinhos do metrô. A história é realmente muito viva aqui, tem até uns anúnucios engraçados com a foto de personagens históricos portugueses (Camões, D. Alfonso Henriques, etc.) e com enquetes do tipo "poeta ou aventureiro? decida você". Meio impensável um negócio desses no Brasil... Muita coisa é impensável (a começar pelo mecanismo nos carrinhos do aeroporto, pelos ônibus e bondes sem catracas, o português que é uma experiência maluca...)

sábado, 3 de fevereiro de 2007

Olá

Pensei nesse blog como uma forma de estar um pouquinho mais perto de quem está longe... ´

Estar junto, compartilhar, é sempre alguma coisa de uma delicadeza de teia de aranha na chuva... um fino fio invisível vai sendo tecido e nos enredando e, sem que se possa precisar quando, se estabelece um laço, um sentimento comum.
Enfim, essa é mais uma tentativa de manter essa tessitura (que as palavras possam ao menos tentar evocá-la)...

E é também, rsrsrs, um diário (não sei se diário mesmo) de viagem, de experiência
aqui, longe...