segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O mágico

De mim o que trará em sua capa
enigmática o mágico? De mim
o que haverá em sua urna aguda
e bem guardada? O que se mudará

de mim para o fundo falso e fundo
de seus olhos sem que eu perceba
nem queira dar por isso? Depois
do espanto, depois do óbvio

sob o fingimento das mangas e de
quantas ciências ocultas em suas
mãos abertas (hora de ir embora)
o que seremos? O que serei de

mim quando sair de cena o mágico?
Que restará do encanto? Há de ficar
comigo a música de agora? Algum
espinho? Um ás? O espanto? 

Eucanaã Ferraz
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-13/poesia/poesia

sábado, 16 de novembro de 2013

Da memória ao corpo: arqueologia coreográfica do CCSP

Foto: Ana Lu Sanches


A impossibilidade de acessar a história de um lugar apenas pelo simples estar ali torna urgente articular poeticamente as memórias registradas nos relatos, reminisciências e documentos, à memória concreta das “coisas banais”, das paredes, objetos, espaços… para poder partilhar sentidos nessa zona “entre a potência de significação inerente às coisas mudas e a potencialização dos discursos e dos níveis de significação”(nas palavras de Jacques Rancière). É neste campo que pretendemos atuar como artistas da dança que procuram evocar e recriar memórias do espaço do CCSP, em diálogo afetivo com memórias pessoais com as quais possamos encontrar pontos de entrecruzamento (ficcional, coreográfico, poético).

TRABALHO REALIZADO PARA O EDITAL "Novos coreógrafos - Novas criações: Site Specific", do Centro Cultural São Paulo

Intérpretes-criadoras: Ana Brandão e Rosana Pellegrini
Intérprete-criador convidado: Pedro Penuela
Colaboração artística: Isabela Franceschi
Figurino: Georgia Bianco Januzzi
Operação de som e contra-regragem: Thiago Cohen e Rodolfo Horoiwa
Flyer e material gráfico: Aline Temoteo
Foto e vídeo: Vinícius Sanaiote e Ana Lu Sanches
Trilha sonora: Ana Brandão, Pedro Penuela e Rosana Pellegrini
Realização: Secretaria Municipal de Cultura, Centro Cultural São Paulo
2013

Da memória ao corpo arqueologia coreográfica do CCSP











Fotos: Ana Lu Sanches

Televisão



“A televisão viciou-nos com o movimento incessante, suprimindo do cotidiano a dimensão do repouso e do silêncio. (…) E, se todo olhar paralisa, nenhum olhar é mais paralisante que o da televisão. (…) Existe um momento, contudo, que libera o espectador da hipnose: é a falha. A falha revela o que a organização esconde, rasgando a cortina das imagens prontas, para dar a ver, num instante, as engrenagens do aparelho. (…) A falha surge, então, como uma irrupção do humano e do contingente, num universo mecânico e condicionado. (…).”

Luiz Nazario ("Pós modernismo e novas tecnologias". Publicado em Barbosa, Ana Mae & Guinsburg, Jacó. "O pós-modernismo". São Paulo: Perspectiva, 2008)

TRABALHO REALIZADO PARA O EDITAL "Novos coreógrafos - Novas Criações: Site Specific", do Centro Cultural São Paulo

Intérprete-criador: Pedro Peñuela
Captação de video ao vivo: Dresler Aguilera
Contra-regragem: Conrado Vivacqua
Preparação corporal e colaboração artística:
Ricardo Neves e Felipe Bittencourt
Fotografia: Ana Lu Sanches
Realização: Centro Cultural São Paulo -
Secretaria Municipal de Cultura
2013

Televisão














Fotografias: Ana Lu Sanches

Televisão - vídeo

Um respeitável homem engravatado cai.
Manca e não consegue manter-se em pé.
Desmorona, silenciosamente.


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Bailarino pesquisador intérprete

"Durante o processo é importante que haja uma abertura para que o seu transe aprisionado, decorrente de tantos anos como instrumento, possa ser liberado no sentido de torná-lo sujeito de sua dança e não objeto. O processo portanto estará nas mãos do bailarino, a partir do momento em que ele aprenda a conduzir as oposições. Aceitando o conflito em seu corpo ele poderá elaborá-lo e transformá-lo em poesia. Uma importante condição para a construção de sua dança é a liberdade de dançar, isto é, sem a cristalização de códigos gestuais e sim a construção do gesto que está em contato direto com a vida."

Graziela Rodrigues



(Trecho do artigo "O bailarino-pesquisador-intérprete incorpora uma realidade gestual", dessa autora dançarina que eu admiro muito.
Disponível em: http://www.iar.unicamp.br/~graziela/gr_ap1.html)

*Foto: Espetáculo "Nascedouro", de Elisa Costa


segunda-feira, 17 de junho de 2013

Contato Improvisação (trecho de texto de Annie Suquet)

"(...) Os pressupostos da dança-contato (...) estão longe de serem anódinos. Implicam uma visão poética, mas também política, da relação ao outro. O tato pode, com toda a razão, ser apresentado ali como "um sentido revolucionário". (...) O tato, esse sentido bastante primitivo e culturalmente desvalorizado, passa a ser, na dança-contato, o vetor de uma "redistribuição dos códigos espaciais e sociais da distância entre as pessoas". (...) A armadura muscular tende a se fazer mais flexível, os próprios tecidos do corpo amolecem, aprende-se a acolher e a ser acolhido, comenta a bailarina de contato Karen Nelson. O corpo do contacter atesta que ele não quer apoderar-se dos seres e das coisas, e essa atitude é emblemática de todo um setor da dança contemporânea.



(...) A dança-contato, com efeito, faz parte das formas de dança que, no século XX, reinventaram da maneira mais profunda a esfera perceptiva. Nessa dança do tato, o maior dos órgãos do corpo, que é a pele, desenvolve uma extrema sensibilidade que não tem nada de superficial. (...) Nenhuma dança neste século nega mais radicalmente a precedência cultural do olhar. Apenas a visão periférica continua sendo essencial, pois ela permite varrer um horizonte de formas em movimento. A dança-contato amplia essa modalidade da visão. (...) É com efeito, in fine, o "sentido do tempo" que se aguça pela dança-contato. "A que velocidade percebemos o nosso pensamento" - pergunta-se Paxton.
A contact improvisation (...) sintetiza muitos dos desafios da dança contemporânea. E ao mesmo tempo constitui para ela um ponto limite. A forma, a estrutura aí são radicalmente subordinadas ao processo. A contact improvisation permite que se veja a emergência do movimento: é a experiência que cria um espetáculo, aquém e além de toda representação mental"

(Fonte: SUQUET, Annie. Cenas: um laboratório da percepção. In: COURTINE, J. J., CORBIN, A. & VIGARELLO, G. "História do corpo". Vol 3. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008)

Foto: Foto mostrando o dançarino de CI Ray Chung, disponível em: http://contactimpro.org/en-article163.html

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Televisão

"Há poucas coisas que as pessoas fazem mais do que ver televisão. Da vida normal de uma pessoa, nove anos são passados diante de um aparelho de TV que, com a ajuda de satélites, modela talvez até três bilhões de espectadores (...)” (Luiz Nazario)


Projeto de criação em dança, recém-aprovado na edição 2013 do edital "Novos coreógrafos - Novas criações: Site Specific", do Centro Cultural São Paulo.


“O artista é aquele que viaja nos labirintos ou nos subsolos do mundo social. (...) Devolve aos detalhes insignificantes da prosa do mundo sua dupla potência poética e significante. Na topografia de um lugar ou na fisionomia de uma fachada, na forma ou no desgaste de uma vestimenta, no caos de uma exposição de mercadorias ou de detritos, ele reconhece os elementos de uma mitologia” 

(Jacques Rancière )

“A forma da obra contemporânea vai além de sua forma material: ela é um elemento de ligação, um princípio de aglutinação dinâmica” (Nicolas Bouriaud )

Fotografias: Vinícius Sanaiote

quarta-feira, 27 de março de 2013

Corpo-encontro (mestrado)

"Encontro entre corpos: um estudo sobre o corpo por meio do diálogo entre a dança Contato Improvisação e a psicanálise winnicotiana"

Minha dissertação de mestrado no IP-USP, disponível online.

Resumo:
Este trabalho pretende discutir alguns aspectos fundamentais a respeito das relações entre sujeito e corpo. Para isso, enfocaremos experiências propiciadas por uma proposta de dança contemporânea denominada Contato Improvisação, em um diálogo com os conceitos elaborados pelo psicanalista Donald Winnicott. O Contato Improvisação é uma forma de dança surgida nos anos 1970, nos EUA, baseada em uma proposta de improvisação a partir do contato físico. Essa proposta propicia regimes de relação e comunicação com o outro com matizes e sentidos complexos, passando por experiências de indiferenciação e comunicação imediata, até experiências de confrontação com a diferença e radical alteridade, não somente do outro corpo, mas a alteridade constitutiva do sujeito e da própria corporeidade. O exame destas diferentes experiências nos levará a discutir dimensões da presença da alteridade no processo nunca acabado de constituição do corpo, fundamentalmente alimentado pelas experiências ligadas ao universo do brincar, tal como conceituado por Winnicott.

Link para o texto completo:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-07052012-175206/pt-br.php

A poeira que se assenta - Ai Weiwei


"Ainda existem tantas crianças que desejam viver contos de fadas, rapazes e moças que desejam se apaixonar, jovens que sonham com sua vida futura, pessoas bem-sucedidas que desejam dirigir BMWs, comprar apartamentos de luxo e arranjar uma segunda esposa, participar de reuniões importantes, discutir assuntos acadêmicos, desenvolver empreendimentos imobiliários, colocar sua empresa no mercado, abrir uma joint venture, expandir seu portfólio de investimentos, vender remédios, produzir, vender entradas para espetáculos, promover, aprimorar... tantos 'desejos', mas nenhuma vontade de respirar. Nenhuma vontade de abrir os olhos. Parece que as pessoas são capazes de existir no sufoco e na escuridão"

(Publicado no facebook do artista Ai Weiwei em 2006, mas a página, de acordo com informações na exposição do artista no MIS, foi apagada por mando do governo chinês)

Foto: Lennart Preiss/AP

segunda-feira, 18 de março de 2013

Ruínas

Colaboração com Ana Brandão e Rosana Pellegrini







Fotos: Vinícius Sanaiote



Afetados pelo fato de termos estudado dança no mesmo prédio que abrigou, há apenas uma década, um dos pavilhões da notória Casa de Detenção do Carandiru, decidimos remexer algumas de suas memórias e imergir nas narrativas que retratam os modos de existência e de sobrevivência naquela prisão, pondo-as em diálogo com nossas próprias experiências com Carandirus insuspeitos e sutis que povoam nosso cotidiano e acontecem em nossas histórias pessoais.

Mais informações:
http://projetoruinas.tumblr.com/