"(...) Estava frio na rua. O vento era como gelo. As pessoas passavam correndo, muito rápido; os homens caminhavam feito tesouras; as mulheres andavam feito gatos. E ninguém sabia - ninguém ligava. Mesmo que ela perdesse o controle, se, finalmente, depois de todos esses anos, fosse chorar, por certo a internariam. Mas, diante da idéia de chorar, era como se o pequeno Lennie pulasse nos braços da vó. Ah, é isso que ela quer fazer, meu pombinho, a vó quer chorar. Se ela pudesse só chorar agora, e chorar um tempão, por tudo (...). Mas um choro apropriado por todas essas coisas levaria um tempão. De todo modo, o tempo para isso tinha chegado. Ela devia fazê-lo. Não poderia mais adiar isso; não poderia esperar mais... Aonde poderia ir?(...) Não haveria um lugar onde ela pudesse se esconder e ficar consigo mesma o tempo que quisesse, sem perturbar ninguém, e sem que ninguém a importunasse? Não haveria algum lugar no mundo onde ela pudesse chorar abertamente - por fim?Mãe Parker parou, olhando para um lado e para o outro. O vento gelado inflou seu avental como um balão. E agora começava a chover. Não havia lugar algum."
Katherine Mansfield, do Conto "A vida de Mãe Parker"
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