Gosto de dormir em viagens curtas ou na última hora de uma viagem longa. É como um sentido instintivo de fim, que me faz finalmente aceitar...
Eu nunca estou suficientemente distraído e sempre quero mais da alegria – a que já tenho, a que já tive, a que sonhei, a que adivinho, a que me mata ou me faz reviver... as que têm e as que não têm nome. Sempre fui tolo o suficiente pra achar que se desejamos algo estando completamente inteiros naquele desejo, então aquilo é nosso por direito. Porque a vida tinha de ser justa...
Devia ter aprendido na Índia a não acreditar nas palavras que me dizem e a aceitar que momentos de graça e de alegria plena são relâmpagos (nossos olhos não saberiam o que fazer com tanta luz se ela durasse mais). O resto é travessia da escuridão de infinitas solidões. E só.
Mas não aprendi. E sempre me recusei a adotar a sabedoria cínica das razões pragmáticas e do realismo que se conforma. Porque nunca um soco vai ser capaz de ensinar mais e fazer mais bem que um beijo (só preciso convencer a vida disso... mas ela é tão cabeça-dura). E a memória de um único instante já é suficiente pra nos desviar pra sempre o caminho.
Acho que sou amigo do Álvaro de Campos porque já levei porrada... e sou ridículo tantas vezes... e defendo a Psiquê do mito e também olharia pro rosto proibido do amado, e não aceito a felicidade que não tem rosto e sacrificaria meu fígado pra roubar o fogo dos deuses e prefiro uma vida breve a deixar de ouvir o canto das sereias.
O escuro selvagem da floresta me parece mais luminoso que nossas lâmpadas elétricas e eu sempre gostei demais do silêncio dos cristais cheios de pontas...
Não há nada que nos garanta que essa vida é mais real que um sonho, nos lembram os mestres chineses. Os meus, de qualquer forma, são meu único norte e sempre me levam pra fora do que eu tinha planejado. “Porque uno es más autentico cuanto más se parece con lo que ha soñado para sí mismo”.
Um tio meu me dizia o quanto seria linda uma viagem que faríamos. Ela nunca aconteceu e até hoje meus olhos brilham como se eu já estivesse lá e o preço por esse lume vivo no olhar é alto demais e eu sempre caio em todas as armadilhas que eu já devia conhecer...
Troquei a sabedoria prudente pela vida e desde então os perigos dos quais estava protegido não cessam mais. Acredito e amo os vaga-lumes porque eles me lembram que as estrelas também estão entre nós e são sim pequenininhas, como o sabem as crianças, e é só se descobrindo pequeno que alguém pode amar e ser amado.
(Não sei até quando, mas ainda prefiro essa dor de ouvir meu telefone tocando quando é sempre algum outro barulhinho à muda resignação das violetas sem cheiro)
2 comentários:
Querido Pedro,
Tem surpresa para vc no meu blog... veja nos Santos Xodós.
Algumas coisas a te dizer:
1 - Sabe pq seu blog inicialmente me chamou a atenção (antes de lê-lo), pelo nome... Tem a ver com o momento e tem a ver com a idéia de um livro um dia... Está em nascedouro. Quem sabe vc não o escreve antes de mim e me ajuda a achar outro título, então? Hehehe.
2 - Engraçado vc ter dito isso sobre não deveria acreditar no que te dizem... Será mesmo? Me pergunto isso sempre... Apanhamos muito sendo assim, mas sinceramente? Quem perde mais? Nossos momentos de verdade, de sinceridade, de consciência tranqüila, de paz, de amor verdadeiro tenho certeza de que são insuperáveis... bem mais bem vividos do que a maioria das pessoas, mais endurecidas, menos sonhadoras, com menos caledoscópios no olhar que nós!
Então... vamos vivendo e aprendendo apenas a não deixar a decepção machucar... e somente ensinar!
Um bjo grande
Santinha
já comentei em outro lugar sobre esse mesmo texto. e é incrível.
eu devo ser amiga de álvaro de campos também. e pseudônimos.
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