Trechos de "Folhas de relva", Walt Whitman (!)
"(...) Alguém estava pedindo para ver a alma?
Olhai vossa própria forma e semblante, pessoas, substãncias, bichos, as árvores, os rios defluindo, as rochas e as areias.
(...)
Notai que o corpo inclui e é o significado, a idéia mestra, e ele
inclui e é a alma:
quem quer que sejais vós - como é sublime e como é divino o vosso corpo ou qualquer parte dele!"
"(...) Folga comigo na grama, afrouxa o nó da garganta,
nem palavras, nem música, nem rimas estou querendo, nem
costume nem lição, nem memso do melhor,
quero só o acalanto, o murmúrio da tua voz valvar.
Penso em como uma vez nos espichamos deitados certa manhã de verão transparente,
como forçaste a cabeça nos meus quadris e gentilmente te viraste sobre mim
e me rasgaste a camisa no osso do peito e efiaste a língua em meu coração nu
e foste assim até sentir-me a barba e foste assim até sentir-me os pés.
(...)
As barbas dos homens moços brilhavam de gotas d'água
caindo-lhes dos compridos cabelos,
pequenos fios d'água lhe escorriam pelo corpo todo.
Uma invisível mão também passava pelos corpos deles,
descendo trêmula das frontes e quadris.
Os moços nadam de costas, claras barrigas ao sol, sem
indagarem quem estende a mão para eles,
eles não sabem quem enche o peito e desiste de sobrancelhas
curvadas e vacilantes
nem lhes ocorre que estejam salvando alguém com a água que respingam.
(...)
Já não ouviste dizer que era bom ganhar o dia?
Eu digo que perder também é bom, batalhas são perdidas com o mesmo espírito com que são ganhas.
(...)
Viva àqueles que fracassaram!
E àqueles cujos navios de guerra afundaram no mar!
E àqueles que em pessoa afundaram no mar!
E a todos os generais que perderam nas manobras e foram todos heróis!
E ao sem-número dos heróis desconhecidos equivalentes aos
heróis maiores que se conhecem!
(...)
Não sou de concha calosa,
tenho instantâneos condutores por mim todo, esteja andando
ou parado,
apreendem cada objeto e o levam sem dano através de mim.
Eu simplesmente me animo, tateio, sinto com os dedos, e sou
feliz
tocar com minha pessoa a de outrem é quase tanto quanto eu
posso resistir.
Estão todas as verdade à espera em todas as coisas, (...)
(...)
Eu parto que nem ar, sacudo os cabelos brancos ao sol que
está indo embora,
derramo minha carne em remoinhos e a deixo flutuando em
pontas rendilhadas.
Eu me planto no chão para crescer com a relva que eu amo,
se de novo me quiserdes, buscai-me embaixo das solas dos
vossos sapatos.
Dificilmente sabereis quem sou ou o que significo,
mas apesar de tudo para vós serei boa saúde
purificando e dando fibra ao vosso sangue.
Deixando de encontrar-me ao primeiro momento, conservai a coragem:
perdendo-me em algum lugar, ide procurar-me em outro;
em algum ponto eu hei de estar parado a esperar por vós".
Um comentário:
Lindíssimo...
Muito mesmo.
Vou reler algumas vezes para sentir devidamente...
Um bjo
Axé!
Santinha
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