(Não esperem alguma coerência entre eles...)
...E então saímos todos de uma cidadezinha perdida, depois de homenagens e gratidões querendo apenas voltar pras nossas solidões coca-cola, pra trilha sonora dos avisos do metrô, do respiro entre as buzinas, cansaços, pras multidões, pra fina capa plástica do bom funcionamento de nossa civilização. Não sei se meu estômago àquela hora do dia estava um tanto revirado pelo calor ou porque era ao mesmo tempo triste e repugnante a ânsia de toda aquela gente de ir embora fugindo...
É que não fugíamos somente da miséria das crianças desnutridas, pequenas, das crianças grávidas, das crianças mudas, das crianças impossíveis, aprisionadas, da desolação, dos casebres sem comida e com televisão, da falta de sonho, dos olhos baixos, da palavra engasgada na garganta... também disso... mas, e com mais empenho, fugíamos porque precisávamos reafirmar nossa própria ilusória bem-aventurança de viver onde tudo acontece, de nos reconhecer nos atores das novelas e nos modelos das propagandas, e de achar que o shampoo que usamos deixa nossos cabelos iguaizinhos aos da moça da embalagem e que por isso vale a pena estarmos aqui e não termos mais horizonte pra descansar os olhos... Pra não ter de nos dar conta de que a miséria da qual fugíamos é também a nossa e de que aquele encontro com a pobreza não comprovava a carência do outro, mas apenas confirmava que tanto ele como nós, pra além das dores da barriga vazia, está igualmente flutuando no vazio de preencher as horas com alguma coisa que faça sentido, enquanto sentimos essa ânsia impossível de um colo ou canção que se anuncia sem chegar...
...J., minha querida, você me perguntou se eu também já tinha me machucado assim e nem precisei te responder, já que afinal só nossa figura já é também discurso, memória, canção, ao menos quando estamos realmente ali, a ponto de perceber esse silêncio de algodão nos nossos sorrisos... J., eu estava completamente perdido na tarefa de dizer alguma coisa que te ajudasse de algum modo a encontrar tua própria bússola, mas não é que eu fui descobrir que afinal o que estava perdido, esperando ser encontrado, é um outro igualmente tateando onde está... E de repente nossos passos já não configuravam um zanzar, mas um caminho...
... O bom de termos memória, entre tantas coisas, é que graças a ela carregamos conosco pra sempre ao menos um pouco de cada um que encontramos, e isso faz com que cada novo encontro com um novo outro também seja um encontro desses milhares de outros que passaram por nossas vidas com esse alguém novo. E assim, se multiplicam os encontros e as trocas ao infinito, e cada novo encontro é a humanidade se olhando a si mesma... só que de um jeito irrepetível, irreproduzível, porque é única essa combinação de encontros na intensidade daquele específico, daquela mistura única de memórias e anseios... é porque somos todos tão iguaizinhos que também somos absolutamente únicos, cada um...
...Procurava nas estrelas daquele dia onde estaria você e se o brilho dos teus olhos teria o sabor que eu imaginava, e se eu ainda ia poder tocar teu rosto como quando o vento leva meus sonhos pra longe...
Constelações só aparecem quando alguém olha o céu mais devagar, buscando aquilo que secretamente sabemos que está lá... É preciso olhar devagar (e acreditar), pra que o que sempre se soube se revele...
sábado, 22 de dezembro de 2007
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Nanas de la cebolla
(Só pra dividir com os possíveis leitores desse blog. Poema de Miguel Hernandez, poeta espanhol morto na prisão durante o regime franquista na Espanha, dedicado a seu filho depois de ele receber uma carta de sua mulher contando que o menino não comia nada além de pão e cebola)
Nanas de la cebolla
Miguel Hernández
La cebolla es escarcha
cerrada y pobre.
Escarcha de tus días
y de mis noches.
Hambre y cebolla,
hielo negro y escarcha
grande y redonda.
En la cuna del hambre
mi niño estaba.
Con sangre de cebolla
se amamantaba.
Pero tu sangre,
escarchada de azúcar
cebolla y hambre.
Una mujer morena
resuelta en lunas
se derrama hilo a hilo
sobre la cuna.
Ríete niño
que te traigo la luna
cuando es preciso.
Tu risa me hace libre,
me pone alas.
Soledades me quita,
cárcel me arranca.
Boca que vuela,
corazón que en tus labios
relampaguea.
Es tu risa la espada
más victoriosa,
vencedor de las flores
y las alondras.
Rival del sol.
Porvenir de mis huesos
y de mi amor.
Desperté de ser niño:
nunca despiertes.
Triste llevo la boca:
ríete siempre.
Siempre en la cuna
defendiendo la risa
pluma por pluma.
Al octavo mes ríes
con cinco azahares.
Con cinco diminutas
ferocidades.
Con cinco dientes
como cinco jazmines
adolescentes.
Frontera de los besos
serán mañana,
cuando en la dentadura
sientas un arma.
Sientas un fuego
correr dientes abajo
buscando el centro.
Vuela niño en la doble
luna del pecho:
él, triste de cebolla,
tú satisfecho.
No te derrumbes.
No sepas lo que pasa
ni lo que ocurre.
Nanas de la cebolla
Miguel Hernández
La cebolla es escarcha
cerrada y pobre.
Escarcha de tus días
y de mis noches.
Hambre y cebolla,
hielo negro y escarcha
grande y redonda.
En la cuna del hambre
mi niño estaba.
Con sangre de cebolla
se amamantaba.
Pero tu sangre,
escarchada de azúcar
cebolla y hambre.
Una mujer morena
resuelta en lunas
se derrama hilo a hilo
sobre la cuna.
Ríete niño
que te traigo la luna
cuando es preciso.
Tu risa me hace libre,
me pone alas.
Soledades me quita,
cárcel me arranca.
Boca que vuela,
corazón que en tus labios
relampaguea.
Es tu risa la espada
más victoriosa,
vencedor de las flores
y las alondras.
Rival del sol.
Porvenir de mis huesos
y de mi amor.
Desperté de ser niño:
nunca despiertes.
Triste llevo la boca:
ríete siempre.
Siempre en la cuna
defendiendo la risa
pluma por pluma.
Al octavo mes ríes
con cinco azahares.
Con cinco diminutas
ferocidades.
Con cinco dientes
como cinco jazmines
adolescentes.
Frontera de los besos
serán mañana,
cuando en la dentadura
sientas un arma.
Sientas un fuego
correr dientes abajo
buscando el centro.
Vuela niño en la doble
luna del pecho:
él, triste de cebolla,
tú satisfecho.
No te derrumbes.
No sepas lo que pasa
ni lo que ocurre.
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Memória e voz
(Escrevi esse texto pra ser publicado no jornal dos estudantes do IP-USP, mas caso não saia a tempo, aqui vai)
Memória e voz
“Celebração da voz humana
Tinham as mãos atadas, ou algemadas, e no entanto os dedos dançavam, voavam, desenhavam palavras. Os presos estavam encapuzados, mas, inclinando-se, conseguiam ver algo, um pouquinho, por baixo. Ainda que falar estivesse proibido, eles conversavam com as mãos.
Pinio Ungerfeld me ensinou o alfabeto dos dedos, que na prisão aprendeu sem professor:
– Alguns tínhamos má letra – me disse –. Outros eram uns artistas da caligrafia.
A ditadura uruguaia queria que cada um fosse nada mais que um, que cada um fosse ninguém: nas prisões e quartéis em todo o país, comunicar-se era delito.
Alguns presos passaram mais de dez anos enterrados em solitários calabouços do tamanho de um ataúde, sem escutar mais vozes que o estrépito das grades ou os passos das botas pelos corredores. Fernandez Huidobro e Maurício Rosencof, condenados a essa solidão, se salvaram porque puderam falar-se, com golpezinhos, através da parede. Assim se contavam sonhos e lembranças, amores e desamores; discutiam, abraçam-se, brigavam; compartilhavam certezas e belezas e também compartilhavam dúvidas e culpas e perguntas, dessas que não têm resposta.
Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, à voz humana não há quem pare. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde seja. Porque todos, todinhos, temos algo a dizer aos demais, alguma coisa que merece ser pelos demais celebrada ou perdoada.”
Eduardo Galeano (tradução livre de trecho de “El libro de los abrazos”)
Depois do último evento de memória do nosso CA, a professora Ecléa Bosi, numa conversa de corredor, contava um pequeno detalhe desses que ocupam as notas de rodapé da historiografia oficial (a mesma que fundamenta que uma rua vizinha nossa tenha o nome do militar que ordenou a morte da Aurora Furtado). Trata-se das circunstâncias em que morreu Carlos Lamarca, companheiro da Iara Iavelberg. Contava a Ecléa que ele morreu sob um pé de angico. Logo depois de os vigias que estavam à frente lhe dizerem “os homens estão chegando”, ele toma um tiro, sem ter tempo de ter qualquer reação à notícia escutada. Ecléa termina esse relato comentando que curiosamente, Lampião morreu exatamente da mesma forma, debaixo de um pé de angico, sem ter tempo de reagir à notícia dada da mesma maneira: “os homens estão chegando”.
Sem melhor resposta pra dar, lhe digo que é triste, mas a história se repete. Ela responde, “espero que não com vocês”.
Recentemente li no jornal de uma chapa candidata ao nosso DCE pra próxima gestão a notícia de que um estudante de uma universidade americana fora preso no meio de uma palestra do senador John Kerry por fazer-lhe perguntas inconvenientes ao que seria uma palestra-campanha. As circunstâncias de seu aprisionamento são detalhadas e me parecem eloqüentes por si mesmas: ao tentar fazer uma segunda pergunta o estudante é pego por três policiais e algemado e, ao insistir em dizer que não havia cometido nenhum delito, é silenciado com um aparelho que lhe ministra choques elétricos dolorosos o suficiente para pará-lo (o velho choque elétrico, esse dispositivo fetiche de controle dos loucos, dos insistentes; essa maravilha produtora do bom-comportamento).
Não soube mais nada do destino do estudante. Provavelmente a imprensa oficial não tem nada a dizer a respeito.
Escrevo esse texto como uma tentativa desajeitada de marcar a importância radical e a raridade cada vez maior dos que levantam a voz num mundo que sofistica em ritmo alucinante as ilusões de liberdade e os mecanismos de silenciamento (ironicamente o dicionário do meu computador não reconhece essa palavra).
Lembro de ter lido em algum lugar a respeito da maneira como um dos comandantes do governo americano na época da guerra do Vietnã justificava a legitimidade da intervenção militar com o argumento de que a “maioria silenciosa” apoiava a invasão, contrariamente à vontade da minoria, barulhenta, que ousava protestar.
Em nosso cotidiano, me assusta assistir à sutil guerra fria entre minorias barulhentas e maiorias silenciosas (sem maniqueísmos, afinal esses dois pólos representam quase que lugares estruturais que podem vir a ser ocupados pelos mais diversos atores) e a supremacia da pressão pelo silêncio, do enfrentamento individual do salve-se quem puder, do refúgio em nossas próprias epopéias privadas num mundo cada vez com menos esperança de sobrevivência, da individualização que nos homogeiniza em uma maioria silenciosa, incapazes de sequer saber contra o quê gritar...
Pergunto-me, pensando em nosso cotidiano de estudantes e produtores da psicologia na universidade, e na atuação das necessaríssimas instâncias avaliadoras de nosso desempenho produtivo, até que ponto a lógica produtivista a que estamos conformados todos de alguma maneira (senão conformados, submetidos) não funciona como silenciador da possibilidade de dizer realmente o que precisa ser dito.
Uma das melhores maneiras de silenciar a verdade de um sujeito é permitir-lhe dizer sem parar apenas o que não importa. O vômito verbal dos apresentadores de programas de televisão aos domingos o ilustra bem.
Domínio do silenciamento, domínio do esquecimento. A impossibilidade de dizer é também a impossibilidade de lembrar, e de, com isso, cultivar um enraizamento histórico que nos articule como herdeiros dos mesmos sonhos (ou feridas).
Alegoria do silenciamento é o olhar catatônico ou o relato verborrágico de violências que é uma constante em pacientes dos manicômicos que ainda permanecem em pé. Grito que denuncia a violência apagada relegado ao aprisionamento do controle farmacológico, do eletrochoque, da ausência de alguém que o escute como voz pública, que diz algo a respeito do mundo todo.
Se, como dizia um ilustre professor de nosso departamento melhor-avaliado (isto é, o mais produtivo), o que foi publicado há mais de dez anos está morto, é irrelevante, há espaço pra memória e pra palavra enraizada em nossa produção? Ou nos cabe produzir discursos cabíveis na linguagem power point da mediocridade?
Não consigo encontrar uma forma de escrever um parágrafo minimamente conclusivo (talvez porque é onde a fala claudica que algo importante possa aparecer). O que me motivou a escrever esse texto foi simplesmente uma vaga tristeza pelo apagamento da memória dos tantos que ousaram desobedecer o que merecia ser desobedecido. Minha única intenção (não satisfeita, a meu ver), era prestar-lhes alguma homenagem, ou de novo convidar a uma lembrança. As questões implícitas e explícitas que me motivam são velhas questões. Não é de modo algum a primeira vez que alguém as faz. Mas no “mundo ao contrário” em que vivemos há cada vez menos espaço pra elas, ou mesmo pra memória dos que ousaram fazê-las de novo, e de novo, incapazes de simplesmente se conformar.
De fato, “os homens” estão sempre chegando.
Memória e voz
“Celebração da voz humana
Tinham as mãos atadas, ou algemadas, e no entanto os dedos dançavam, voavam, desenhavam palavras. Os presos estavam encapuzados, mas, inclinando-se, conseguiam ver algo, um pouquinho, por baixo. Ainda que falar estivesse proibido, eles conversavam com as mãos.
Pinio Ungerfeld me ensinou o alfabeto dos dedos, que na prisão aprendeu sem professor:
– Alguns tínhamos má letra – me disse –. Outros eram uns artistas da caligrafia.
A ditadura uruguaia queria que cada um fosse nada mais que um, que cada um fosse ninguém: nas prisões e quartéis em todo o país, comunicar-se era delito.
Alguns presos passaram mais de dez anos enterrados em solitários calabouços do tamanho de um ataúde, sem escutar mais vozes que o estrépito das grades ou os passos das botas pelos corredores. Fernandez Huidobro e Maurício Rosencof, condenados a essa solidão, se salvaram porque puderam falar-se, com golpezinhos, através da parede. Assim se contavam sonhos e lembranças, amores e desamores; discutiam, abraçam-se, brigavam; compartilhavam certezas e belezas e também compartilhavam dúvidas e culpas e perguntas, dessas que não têm resposta.
Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, à voz humana não há quem pare. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde seja. Porque todos, todinhos, temos algo a dizer aos demais, alguma coisa que merece ser pelos demais celebrada ou perdoada.”
Eduardo Galeano (tradução livre de trecho de “El libro de los abrazos”)
Depois do último evento de memória do nosso CA, a professora Ecléa Bosi, numa conversa de corredor, contava um pequeno detalhe desses que ocupam as notas de rodapé da historiografia oficial (a mesma que fundamenta que uma rua vizinha nossa tenha o nome do militar que ordenou a morte da Aurora Furtado). Trata-se das circunstâncias em que morreu Carlos Lamarca, companheiro da Iara Iavelberg. Contava a Ecléa que ele morreu sob um pé de angico. Logo depois de os vigias que estavam à frente lhe dizerem “os homens estão chegando”, ele toma um tiro, sem ter tempo de ter qualquer reação à notícia escutada. Ecléa termina esse relato comentando que curiosamente, Lampião morreu exatamente da mesma forma, debaixo de um pé de angico, sem ter tempo de reagir à notícia dada da mesma maneira: “os homens estão chegando”.
Sem melhor resposta pra dar, lhe digo que é triste, mas a história se repete. Ela responde, “espero que não com vocês”.
Recentemente li no jornal de uma chapa candidata ao nosso DCE pra próxima gestão a notícia de que um estudante de uma universidade americana fora preso no meio de uma palestra do senador John Kerry por fazer-lhe perguntas inconvenientes ao que seria uma palestra-campanha. As circunstâncias de seu aprisionamento são detalhadas e me parecem eloqüentes por si mesmas: ao tentar fazer uma segunda pergunta o estudante é pego por três policiais e algemado e, ao insistir em dizer que não havia cometido nenhum delito, é silenciado com um aparelho que lhe ministra choques elétricos dolorosos o suficiente para pará-lo (o velho choque elétrico, esse dispositivo fetiche de controle dos loucos, dos insistentes; essa maravilha produtora do bom-comportamento).
Não soube mais nada do destino do estudante. Provavelmente a imprensa oficial não tem nada a dizer a respeito.
Escrevo esse texto como uma tentativa desajeitada de marcar a importância radical e a raridade cada vez maior dos que levantam a voz num mundo que sofistica em ritmo alucinante as ilusões de liberdade e os mecanismos de silenciamento (ironicamente o dicionário do meu computador não reconhece essa palavra).
Lembro de ter lido em algum lugar a respeito da maneira como um dos comandantes do governo americano na época da guerra do Vietnã justificava a legitimidade da intervenção militar com o argumento de que a “maioria silenciosa” apoiava a invasão, contrariamente à vontade da minoria, barulhenta, que ousava protestar.
Em nosso cotidiano, me assusta assistir à sutil guerra fria entre minorias barulhentas e maiorias silenciosas (sem maniqueísmos, afinal esses dois pólos representam quase que lugares estruturais que podem vir a ser ocupados pelos mais diversos atores) e a supremacia da pressão pelo silêncio, do enfrentamento individual do salve-se quem puder, do refúgio em nossas próprias epopéias privadas num mundo cada vez com menos esperança de sobrevivência, da individualização que nos homogeiniza em uma maioria silenciosa, incapazes de sequer saber contra o quê gritar...
Pergunto-me, pensando em nosso cotidiano de estudantes e produtores da psicologia na universidade, e na atuação das necessaríssimas instâncias avaliadoras de nosso desempenho produtivo, até que ponto a lógica produtivista a que estamos conformados todos de alguma maneira (senão conformados, submetidos) não funciona como silenciador da possibilidade de dizer realmente o que precisa ser dito.
Uma das melhores maneiras de silenciar a verdade de um sujeito é permitir-lhe dizer sem parar apenas o que não importa. O vômito verbal dos apresentadores de programas de televisão aos domingos o ilustra bem.
Domínio do silenciamento, domínio do esquecimento. A impossibilidade de dizer é também a impossibilidade de lembrar, e de, com isso, cultivar um enraizamento histórico que nos articule como herdeiros dos mesmos sonhos (ou feridas).
Alegoria do silenciamento é o olhar catatônico ou o relato verborrágico de violências que é uma constante em pacientes dos manicômicos que ainda permanecem em pé. Grito que denuncia a violência apagada relegado ao aprisionamento do controle farmacológico, do eletrochoque, da ausência de alguém que o escute como voz pública, que diz algo a respeito do mundo todo.
Se, como dizia um ilustre professor de nosso departamento melhor-avaliado (isto é, o mais produtivo), o que foi publicado há mais de dez anos está morto, é irrelevante, há espaço pra memória e pra palavra enraizada em nossa produção? Ou nos cabe produzir discursos cabíveis na linguagem power point da mediocridade?
Não consigo encontrar uma forma de escrever um parágrafo minimamente conclusivo (talvez porque é onde a fala claudica que algo importante possa aparecer). O que me motivou a escrever esse texto foi simplesmente uma vaga tristeza pelo apagamento da memória dos tantos que ousaram desobedecer o que merecia ser desobedecido. Minha única intenção (não satisfeita, a meu ver), era prestar-lhes alguma homenagem, ou de novo convidar a uma lembrança. As questões implícitas e explícitas que me motivam são velhas questões. Não é de modo algum a primeira vez que alguém as faz. Mas no “mundo ao contrário” em que vivemos há cada vez menos espaço pra elas, ou mesmo pra memória dos que ousaram fazê-las de novo, e de novo, incapazes de simplesmente se conformar.
De fato, “os homens” estão sempre chegando.
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Hoje
Dia nublado, chuva incessante, desses em que a luz do dia, esquecida de sua fonte, é como cheiro que desperta lembrança distante, reavivando o que sempre esteve ali, escondido.
A ilusão quase patética de proteção dos guarda-chuvas e a insistência dos transeuntes em continuar obedecendo a relógios escancaram ainda mais a dolorosa luta de nossa época contra a memória em nossos corpos, presentificada numa vaga preguiça, ou melacolia, assim como na intimidade do que sentimos com o movimento de um céu como esse, abrindo espaço nos vãos entre os prédios, molhando nossas roupas de papel...
(No silêncio dessa noite invento fantasmas que teu abraço espantaria... esse ar tão mais limpo tem um cheiro suave de saudade...)
A ilusão quase patética de proteção dos guarda-chuvas e a insistência dos transeuntes em continuar obedecendo a relógios escancaram ainda mais a dolorosa luta de nossa época contra a memória em nossos corpos, presentificada numa vaga preguiça, ou melacolia, assim como na intimidade do que sentimos com o movimento de um céu como esse, abrindo espaço nos vãos entre os prédios, molhando nossas roupas de papel...
(No silêncio dessa noite invento fantasmas que teu abraço espantaria... esse ar tão mais limpo tem um cheiro suave de saudade...)
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Sobre escrever
(...) Não correr tanto pra fugir de si mesmo, do seu próprio mistério e silêncio, da sua ausência... é que a gente nunca está onde supostamente deveria, e quando eu acho que me encontrei a ponto de quase segurar-me nas mãos, é que me dou conta de que olhar pra si mesmo é encontrar sempre um outro. O que fazer com as peças que sobraram varridas pra debaixo do tapete? Onde encontrar as que faltaram pra completar a montagem? Como deter o curso de uma escritura que vai partindo pra direções não planejadas, como se o lápis nos tomasse pela mão? Como assinar uma história, uma vida, escrita assim afinal? E talvez descubramos que só estávamos mesmo nas entrelinhas, nos desvãos, no que não pôde ser dito ou ficou pela metade, boca aberta, mão no cabelo, arrepio, miragem, devaneio...
Sobre o ator
Enfim, ainda meio indeciso, estou voltando a postar... quem sabe isso me anime a completar esse blog com o que fui escrevendo na Índia... enquanto isso, vou pondo aqui coisas que escrevi há pouco tempo... a ver qué pasa...
Esse é curtinho, pensei nele e escrevi depois de ver a peça de um amigo querido...
O ator não entrega seu corpo, ele o empresta a nós naquele momento pra ser o entrecruzamento das linhas de fuga de nossa mirada e nosso sentimento. Pura carne mestiça e pulsante, o ator está distante: possuídos pelo espírito da personagem estamos apenas nós, quietamente olhando contorções que adivinhamos nossas. Quem atravessa desnudo um abismo é o desprevinido espectador, insuspeito de haver revelado demais justamente o que as máscaras e cenários supunham, ao mostrar tanto, esconder.
Esse é curtinho, pensei nele e escrevi depois de ver a peça de um amigo querido...
O ator não entrega seu corpo, ele o empresta a nós naquele momento pra ser o entrecruzamento das linhas de fuga de nossa mirada e nosso sentimento. Pura carne mestiça e pulsante, o ator está distante: possuídos pelo espírito da personagem estamos apenas nós, quietamente olhando contorções que adivinhamos nossas. Quem atravessa desnudo um abismo é o desprevinido espectador, insuspeito de haver revelado demais justamente o que as máscaras e cenários supunham, ao mostrar tanto, esconder.
terça-feira, 19 de junho de 2007
Umas possíveis últimas palavras
Não sei quando vou conseguir postar de novo nesse blog. Provavelmente só quando já estiver no Brasil, de volta da Índia... então, como últimas palvras de despedida aqui da Europa, deixo um texto que escrevi no ônibus, quando ia pra fazenda:
Na vida é importante demais saber nascer. A cada novo ciclo, conseguir dizer sim a cada novo dia, a cada passo inicial de um caminho.
A cada momento, só o que temos é um mundo totalmente novo e desconhecido. A cada instante, só o que temos é um começo, e cada olhar é o primeiro abrir de olhos de um recém-nascido.
Mas tendemos a criar e esforçamo-nos por manter sinais de segurança, continuidade, previsibilidade; constâncias que nos apressamos a interpretar como sinais de que o mundo já é conhecido e de que o futuro será sempre ou quase sempre tal e qual esperamos, afinal seguimos sendo os mesmos. E assim construimos uma imagem de continuidade e, agarrados a ela, nos sentimos seguros como um náufrago agarrado a uma bóia.
Nessa viagem, esse meu sentido de constância vem sendo testado, balançado, derrubado a todo momento. Eu nunca sei exatamente o que virá a seguir, e sempre que as coisas começam a se assentar em algo famililar, constante, quentinho, como a casa à qual retornamos sempre e todo dia, entao tudo muda, e eu estou novamente em um ônibus pra um novo lugar, um novo tempo/espaço... tenho que nascer de novo, mais uma vez.
No final, não sei bem, mas acho que a gente acaba sabendo estar quentinho a cada novo nascimento, e levando esse útero e raiz pra onde quer que estejamos. Pra poder viajar é preciso ser ainda mais parecido com as plantas. Não é questão de não ter raízes, mas de saber criá-las aonde quer que se vá, saber colher de cada nova terra os nutrientes que se precisa, e seguir em frente, para poder voltar
Na vida é importante demais saber nascer. A cada novo ciclo, conseguir dizer sim a cada novo dia, a cada passo inicial de um caminho.
A cada momento, só o que temos é um mundo totalmente novo e desconhecido. A cada instante, só o que temos é um começo, e cada olhar é o primeiro abrir de olhos de um recém-nascido.
Mas tendemos a criar e esforçamo-nos por manter sinais de segurança, continuidade, previsibilidade; constâncias que nos apressamos a interpretar como sinais de que o mundo já é conhecido e de que o futuro será sempre ou quase sempre tal e qual esperamos, afinal seguimos sendo os mesmos. E assim construimos uma imagem de continuidade e, agarrados a ela, nos sentimos seguros como um náufrago agarrado a uma bóia.
Nessa viagem, esse meu sentido de constância vem sendo testado, balançado, derrubado a todo momento. Eu nunca sei exatamente o que virá a seguir, e sempre que as coisas começam a se assentar em algo famililar, constante, quentinho, como a casa à qual retornamos sempre e todo dia, entao tudo muda, e eu estou novamente em um ônibus pra um novo lugar, um novo tempo/espaço... tenho que nascer de novo, mais uma vez.
No final, não sei bem, mas acho que a gente acaba sabendo estar quentinho a cada novo nascimento, e levando esse útero e raiz pra onde quer que estejamos. Pra poder viajar é preciso ser ainda mais parecido com as plantas. Não é questão de não ter raízes, mas de saber criá-las aonde quer que se vá, saber colher de cada nova terra os nutrientes que se precisa, e seguir em frente, para poder voltar
Paris
Montmatre (um dos moinhos)
Sacre Coeur
Um velhinho que estava no cemitério de Montmatre (infelizmente apaguei por acidente uma foto linda que tinha tirado dele, sem ele perceber, costurando uma roupa)
Um salão da Ópera
Notre Dame
Notre Dame (detalhe)
Uma das pontes sobre o Sena
Uma loja muito charmosa na avenida que margeia o rio (no caminho pra o Museu D'Orsay)
Degas (Museu D'Orsay)
Van Gogh (mesmo museu)
Chagall (Centro Georges Pompidou)
Magritte (mesmo museu)
Praça do Centro Georges Pompidou (sob a chuva)
Arcimboldo (no Louvre)
Buda, arte afegã (Museu Guimet)
Buda, arte afegã (Museu Guimet)
O turista deslumbrado
Paris foi minha última cidade aqui da Europa (bom, a não ser que eu ainda veja alguma nesse fim de semana...)
Fui meio sem vontade, ainda um pouco enfadado com os franceses, por coisas que vi deles quando estava na fazenda (aonde foram alguns)... enfim... e no final foi uma das cidades que mais me fascinou. Passear por Montmatre (e ainda ser convidado pra tomar café na casa de um artista)... depois pelas margens do rio, ou ir aos museus... ou tudo, a energia do lugar, das pessoas que ali viveram... as paixões que gerou... enfim, é uma cidade muito bonita mesmo.
E ainda ter estado ali com meu avô, ter falado de coisas tão importantes pra mim... ter gesticulado e me comunicado com as pessoas sem falar a língua... tudo tão valioso...
Gostei tanto que perdi o bilhete de volta e ainda, depois de quase não conseguir recuperar o número dele (só fui ir atrás disso às onze horas do dia anterior ao embarque, se se realizaria às 5h da manhã)... ainda perdi a hora de acordar (nao liguei o despertador) e quase perco o vôo... ato falho é pouco...
Viagem a Portugal: Escola da Ponte
Fui a Porto visitar um amigo também recém feito, Luis (muchas gracias!). E também, mais um sonho, conhecer de perto a Escola da Ponte (que fica num povoado vizinho de Porto), que o Rubem Alves soube descrever tão bem...
Não vou descrever aqui a escola. Quem quiser saber mais do funcionamento e em que ela difere das escolas tradicionais porde ver:
Site oficial da Escola: www.eb1-ponte-n1.rcts.pt/
Explicação sobre a escola na Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_da_Ponte
Site do Rubem Alves: http://www.rubemalves.com.br/
Só o que posso comentar é que tristemente nenhum dos Portugueses com quem falei (na verdade, só um), conhecia a escola. E, por incrível que possa parecer para os mais aferrados à idéia de que o jeito como as coisas funcionam é o melhor jeito porque foi testado pelo tempo e sobreviveu como sobrevivem os organismos à seleção natural, a escola funciona, e muito melhor que uma escola tradicional... e tudo o que dizem nos livros, sites, etc. é de fato assim. Quem te guia na visita é realmente um aluno, e o exercício de democracia é realmente constante e muito impressionante (tive a chance de ver a comissão de alunos passando de sala em sala... na verdade as quatro salas enormes onde ficam alunos de várias idades... pra averiguar se todos estava a par com relação aos temas que seriam discutidos na assembléia do dia seguinte, e era muito bonito de ver a paciência com que todos eram ouvidos, e com que se resistia à pressa de atropelar o outro pra que as coisas funcinem mais rápido...)
Enfim...
Não vou descrever aqui a escola. Quem quiser saber mais do funcionamento e em que ela difere das escolas tradicionais porde ver:
Site oficial da Escola: www.eb1-ponte-n1.rcts.pt/
Explicação sobre a escola na Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_da_Ponte
Site do Rubem Alves: http://www.rubemalves.com.br/
Só o que posso comentar é que tristemente nenhum dos Portugueses com quem falei (na verdade, só um), conhecia a escola. E, por incrível que possa parecer para os mais aferrados à idéia de que o jeito como as coisas funcionam é o melhor jeito porque foi testado pelo tempo e sobreviveu como sobrevivem os organismos à seleção natural, a escola funciona, e muito melhor que uma escola tradicional... e tudo o que dizem nos livros, sites, etc. é de fato assim. Quem te guia na visita é realmente um aluno, e o exercício de democracia é realmente constante e muito impressionante (tive a chance de ver a comissão de alunos passando de sala em sala... na verdade as quatro salas enormes onde ficam alunos de várias idades... pra averiguar se todos estava a par com relação aos temas que seriam discutidos na assembléia do dia seguinte, e era muito bonito de ver a paciência com que todos eram ouvidos, e com que se resistia à pressa de atropelar o outro pra que as coisas funcinem mais rápido...)
Enfim...
Textos colhidos na fazenda
Além de pegar esterco, limpar a relva, cuidar de ovelhas, e colher favas, alfaces, ervas daninhas... também colhi na fazenda textos fantásticos de um livro chamado "Voladitos y chuncheretes" (2002), de uma pintora espanhola, Letícia Ruifernández, que conta e ilustra com suas pinturas uma viagem por México e América Central...
Deixo aqui alguns dos textos do livro (em espanhol mesmo, porque acho que mantém a expressividade muito melhor do que traduzidos, e suponho que continuam sendo inteligíveis), e um último texto de outra fonte:
"El mundo al revés nos enseña a ver al prójimo como una amenaza y no como una promesa, nos reduce a la soledad y nos consuela con drogas químicas y con amigos cibernéticos. Estamos condenados a morirnos de hambre, morirnos de miedo, o morirnos de aburrimiento. ¿Será esta libertad de elegir entre desdichas amenazadoras nuestra única libertad posible?
El mundo al revés nos enseña a padecer la realidad en lugar de cambiarla, a olvidar el pasado en lugar de escucharlo y a aceptar el futuro en lugar de imaginarlo."
Eduardo Galeano (en "Patas Arriba", citado no livro acima)
"(...) La necedad del gobierno quiere desestructurar la forma organizativa de las comunidades a través de los partidos políticos. Con ellos llega la idea de que la gente empieze a cobrar. Entonces empiezan los intereses personales, los intereses individuales. Y eso es lo que no queremos. Cuando la autoridad sirve, sirve gratuitamente. Cuando la autoridad es elegida en asamblea el servicio es gratuito. No es remunerado. Entonces la autoridad siente el compromiso, el peso, de que tiene un pueblo encima, de que tiene que responder por él, de que tiene esa gran responsabilidad de guiar bien a su pueblo. Y que si no lo hacen bien, el pueblo está ahí para llamarle la atención"
Virgínia Perez, líder indígena de El Salvador (tirado do mesmo livro)
"(...) Ser ignorante es una palabra que trajeron ellos. En mi comunidad existe gente que no tiene nada de estudio pero si fueran ignorantes no se hubieran buscado una esposa, no hubieran formado su familia, no habrían hecho su casita, no estuvieran trabajando para que a su vez los hijos los mandaran a la escuela.
Ignorancia: esa palabra debe de borrarse. Existen cosas que desconocemos porque no somos telepaticamente para apadrinar lo que alguien está queriendo pensar. Pero nos quieren erradicar. Por eso dicen: son ignorantes, para que nos vayan erradicando, nos vayan apartando. O sea, nos van formando conforme fuimos estudiando. Pero eso no es cierto, no te hace ser mejor. Más bien el aprender, el saber oír y ver, escuchar y sentir, eso es lo que te hace un verdadero aprendiz.
Un verdadero maestro no hay. Un verdadero alumno, tampoco. Y nunca vas a saber. Nuestra mente es tan grande que no hay un límite. Es un infinito. A través de caminar vas descubriendo. Nadie nace sabiendo. Es un proceso que tienes que hacer y descubrir tu propia forma. (...)"
Rómulo González Rebollar, mazahua velho de San Francisco de Mihualtepec, México (do mesmo livro)
"No te dejes que termine un día sin haber crecido un poco, sin haber sido feliz, sin haber aumentado tus sueños. No te dejes vencer por el desaliento. No permitas que nadie te quite el derecho a expresarte, que es casi un deber. No abandones las ansias de hacer de tu vida algo extraordinario. No dejes de creer que las palabras y las poesías sí pueden cambiar el mundo. Pase lo que pase nuestra esencia está intacta. Somos seres llenos de pasión. La vida es desierto y oasis. Nos derriba, nos lastima, nos enseña, nos convierte en protagonistas de nuestra propia historia. Aunque al viento sople en contra, la poderosa obra continua. Tu puedes aportar una estrofa. No dejes nunca de soñar, porque en sueños es libre el hombre."
Walt Whitman (esse estava em um papel que achei totalmente por acaso em uma despensa da fazenda)
Deixo aqui alguns dos textos do livro (em espanhol mesmo, porque acho que mantém a expressividade muito melhor do que traduzidos, e suponho que continuam sendo inteligíveis), e um último texto de outra fonte:
"El mundo al revés nos enseña a ver al prójimo como una amenaza y no como una promesa, nos reduce a la soledad y nos consuela con drogas químicas y con amigos cibernéticos. Estamos condenados a morirnos de hambre, morirnos de miedo, o morirnos de aburrimiento. ¿Será esta libertad de elegir entre desdichas amenazadoras nuestra única libertad posible?
El mundo al revés nos enseña a padecer la realidad en lugar de cambiarla, a olvidar el pasado en lugar de escucharlo y a aceptar el futuro en lugar de imaginarlo."
Eduardo Galeano (en "Patas Arriba", citado no livro acima)
"(...) La necedad del gobierno quiere desestructurar la forma organizativa de las comunidades a través de los partidos políticos. Con ellos llega la idea de que la gente empieze a cobrar. Entonces empiezan los intereses personales, los intereses individuales. Y eso es lo que no queremos. Cuando la autoridad sirve, sirve gratuitamente. Cuando la autoridad es elegida en asamblea el servicio es gratuito. No es remunerado. Entonces la autoridad siente el compromiso, el peso, de que tiene un pueblo encima, de que tiene que responder por él, de que tiene esa gran responsabilidad de guiar bien a su pueblo. Y que si no lo hacen bien, el pueblo está ahí para llamarle la atención"
Virgínia Perez, líder indígena de El Salvador (tirado do mesmo livro)
"(...) Ser ignorante es una palabra que trajeron ellos. En mi comunidad existe gente que no tiene nada de estudio pero si fueran ignorantes no se hubieran buscado una esposa, no hubieran formado su familia, no habrían hecho su casita, no estuvieran trabajando para que a su vez los hijos los mandaran a la escuela.
Ignorancia: esa palabra debe de borrarse. Existen cosas que desconocemos porque no somos telepaticamente para apadrinar lo que alguien está queriendo pensar. Pero nos quieren erradicar. Por eso dicen: son ignorantes, para que nos vayan erradicando, nos vayan apartando. O sea, nos van formando conforme fuimos estudiando. Pero eso no es cierto, no te hace ser mejor. Más bien el aprender, el saber oír y ver, escuchar y sentir, eso es lo que te hace un verdadero aprendiz.
Un verdadero maestro no hay. Un verdadero alumno, tampoco. Y nunca vas a saber. Nuestra mente es tan grande que no hay un límite. Es un infinito. A través de caminar vas descubriendo. Nadie nace sabiendo. Es un proceso que tienes que hacer y descubrir tu propia forma. (...)"
Rómulo González Rebollar, mazahua velho de San Francisco de Mihualtepec, México (do mesmo livro)
"No te dejes que termine un día sin haber crecido un poco, sin haber sido feliz, sin haber aumentado tus sueños. No te dejes vencer por el desaliento. No permitas que nadie te quite el derecho a expresarte, que es casi un deber. No abandones las ansias de hacer de tu vida algo extraordinario. No dejes de creer que las palabras y las poesías sí pueden cambiar el mundo. Pase lo que pase nuestra esencia está intacta. Somos seres llenos de pasión. La vida es desierto y oasis. Nos derriba, nos lastima, nos enseña, nos convierte en protagonistas de nuestra propia historia. Aunque al viento sople en contra, la poderosa obra continua. Tu puedes aportar una estrofa. No dejes nunca de soñar, porque en sueños es libre el hombre."
Walt Whitman (esse estava em um papel que achei totalmente por acaso em uma despensa da fazenda)
Fotos da fazenda
Entrada da casa de Diego (o dono da fazenda, a quem só tenho a agradecer... inclusive pelas coisas difíceis... e por tanto mais)
Janela de um dos quartos
Jardim, perto da entrada
A horta (onde convivem flores, plantas, ervas... bichinhos, esterco, minhocas)
Amigo Buda, na árvore.
O povoado de Ispaster, ao lado do qual está a fazenda (e que nesse processo inexorável e tenebroso... está crescendo pouco a pouco e agora acaba de ganhar forte iluminação noturna, espantando parte das estrelas)
O povoado de Ispaster, ao lado do qual está a fazenda (e que nesse processo inexorável e tenebroso... está crescendo pouco a pouco e agora acaba de ganhar forte iluminação noturna, espantando parte das estrelas)
O bosque no alto de um morro
Essa é a vista de uma árvore bem alta (deve ter mais de dez metros), que tem uma escadinha por onde se pode subir até o topo (desde que sem olhar pra baixo, e confiando que está muito bem pregada...). Depois soube que esse lugar idílico, que oferece uma vista de tirar o fôlego da paisagem de Vizcaya, foi construído com a finalidade de caçar pássaros... tirem suas próprias conclusões...
A Fazenda em Vizcaya
Bom, antes de contar um pouco da minha experiência vivendo dez dias (era pra ser um mês, mas não dava tempo pra fazer tudo) numa fazenda, trabalhando em troca da hospedagem e da comida, queria postar um texto que li recentemente (pra uma prova) e que serve muito como introução:
"As chamadas sociedades desenvolvidas sofrem um processo contínuo e acelerado de desintegração social: se desmembra progressivamente a rede de relações vitais, e se substitui, só parcialmente, por outra rede de relações funcionais. (...)
Este processo acarreta a destruição da rede tradicional de relações sociais típica das sociedades menores, que se caracteriza pelo encontro fácil em território próximo. (...)
(...) A configuração do espaço urbano é um fator chave para explicar a solidão moderna. O espaço/solo tratado como mercadoria se introduz em uma lógica, a lógica do benefício monetário, que nada tem a ver com as necessidades de encontro, de interação cara a cara ou de companhia facilmente acessível. O fenômeno metropolitano traz consigo o redimensionamento da cidade. Suas magnitudes deixam de estar em escala humana. Inabarcável para ser compreendida, inabarcável para ser dominada. Para muitas pessoas é também inabarcável para estabelecer relações prazeirosas (...)"
Fragmento de "La soledad" (1996) de Fernando Cembranos e José Angel Medina María.
O texto continua ainda, indicando como os carros, a televisão, as distâncias, a monetarização das relações, os fenômenos de massa, etc... são criadores de solidão, de isolamento, de alienação, de um fechamento em um mundo individual que roça outros mundos individuais o tempo todo, mas sem que o contato verdadeiro seja permitido...
É, entre outras coisas, por isso (ou contra isso) que eu fui atrás da fazenda, e também porque sentia um pouquinho do espírito que está nas seguintes palavras de Thoreau, um amricano do século XIX que decidiu renunciar à propriedade privada e à vida capitalista e viver de maneira autosuficiente nos bosques ao redor de uma lagoa:
"Fui aos bosques porque queria viver deliberadamente, enfrentar sozinho os fatos essenciais da vida e ver se podia aprender o que a vida tinha que ensinar; e para não descobrir, quanto tivesse que morrer, que não tinha vivido. (...)"
Trecho de "Walden" (1854) de Henry David Thoreau.
Obviamente que minha experiência não teve nem um pingo da radicalidade da vivida por Thoreau, ou pelas tantas pessoas que decidem sair das grandes cidades e viver numa pequena propriedade agrícola, e reinventar, num plano micropolítico, nossa economia e nossa forma de nos relacionar com o mundo... enfim, não cheguei tão longe (quem sabe um dia). Mas a força que tiveram esses dias na fazenda, o divisor de águas que representou essa experiência, a enormidade do aprendizado em tantos níveis... me faz senti-la em termos tão fortes como os de Thoreau... ver e viver concretamente o fato de que somos parte da terra em que estamos, de que esse jantar bonitinho que acabamos de comer ou comprar no mercado cresceu como algo vivo, em um planeta igualmente vivo, do qual somos uma mínima parte e controlamos nada... cresceu num processo que continua sendo mágico e milagroso, e inconcebível e ao qual deveríamos baixar nossa arrogância e tratar com respeitoso silêncio e reverência... ou poesia... com faziam (e fazem) os povos que seguem vivendo na terra... às vezes tão perto...
"As chamadas sociedades desenvolvidas sofrem um processo contínuo e acelerado de desintegração social: se desmembra progressivamente a rede de relações vitais, e se substitui, só parcialmente, por outra rede de relações funcionais. (...)
Este processo acarreta a destruição da rede tradicional de relações sociais típica das sociedades menores, que se caracteriza pelo encontro fácil em território próximo. (...)
(...) A configuração do espaço urbano é um fator chave para explicar a solidão moderna. O espaço/solo tratado como mercadoria se introduz em uma lógica, a lógica do benefício monetário, que nada tem a ver com as necessidades de encontro, de interação cara a cara ou de companhia facilmente acessível. O fenômeno metropolitano traz consigo o redimensionamento da cidade. Suas magnitudes deixam de estar em escala humana. Inabarcável para ser compreendida, inabarcável para ser dominada. Para muitas pessoas é também inabarcável para estabelecer relações prazeirosas (...)"
Fragmento de "La soledad" (1996) de Fernando Cembranos e José Angel Medina María.
O texto continua ainda, indicando como os carros, a televisão, as distâncias, a monetarização das relações, os fenômenos de massa, etc... são criadores de solidão, de isolamento, de alienação, de um fechamento em um mundo individual que roça outros mundos individuais o tempo todo, mas sem que o contato verdadeiro seja permitido...
É, entre outras coisas, por isso (ou contra isso) que eu fui atrás da fazenda, e também porque sentia um pouquinho do espírito que está nas seguintes palavras de Thoreau, um amricano do século XIX que decidiu renunciar à propriedade privada e à vida capitalista e viver de maneira autosuficiente nos bosques ao redor de uma lagoa:
"Fui aos bosques porque queria viver deliberadamente, enfrentar sozinho os fatos essenciais da vida e ver se podia aprender o que a vida tinha que ensinar; e para não descobrir, quanto tivesse que morrer, que não tinha vivido. (...)"
Trecho de "Walden" (1854) de Henry David Thoreau.
Obviamente que minha experiência não teve nem um pingo da radicalidade da vivida por Thoreau, ou pelas tantas pessoas que decidem sair das grandes cidades e viver numa pequena propriedade agrícola, e reinventar, num plano micropolítico, nossa economia e nossa forma de nos relacionar com o mundo... enfim, não cheguei tão longe (quem sabe um dia). Mas a força que tiveram esses dias na fazenda, o divisor de águas que representou essa experiência, a enormidade do aprendizado em tantos níveis... me faz senti-la em termos tão fortes como os de Thoreau... ver e viver concretamente o fato de que somos parte da terra em que estamos, de que esse jantar bonitinho que acabamos de comer ou comprar no mercado cresceu como algo vivo, em um planeta igualmente vivo, do qual somos uma mínima parte e controlamos nada... cresceu num processo que continua sendo mágico e milagroso, e inconcebível e ao qual deveríamos baixar nossa arrogância e tratar com respeitoso silêncio e reverência... ou poesia... com faziam (e fazem) os povos que seguem vivendo na terra... às vezes tão perto...
Andalucía: Córdoba
Essa foi a última cidade por que passamos (fomos pra Málaga também, mas não tenho fotos)...
Só nos deu tempo de ver a Mesquita (mas há muito pra se ver lá)... é fantástica, um dos monumentos mais impressionantes da Andalucía sem dúvida. Entre outras coisas porque resume a história da Espanha em um único edifício. Você vê vestígios da Igreja Visigoda, a Estrutura toda da Mesquisa árabe, e depois as capelas e altares da Catedral católica (a maioria da época barroca)... e tudo é um mesmo lugar... e monumental... e esses arcos dão um efeito de infinito (como em geral nos dá a arquitetura islâmica), de estar diante de algo inabarcável, incompreensível, maior do que se pode aglobar em uma imagem, uma idéia... lembro que logo que cheguei em Madri fui a uma exposição sobre M. Escher, ese falava muito da influência que teve em sua obra a visão da mesquita de Córdoba... estando lá, dá pra entender...
Mesquita de Córdoba (foto do André)
Só nos deu tempo de ver a Mesquita (mas há muito pra se ver lá)... é fantástica, um dos monumentos mais impressionantes da Andalucía sem dúvida. Entre outras coisas porque resume a história da Espanha em um único edifício. Você vê vestígios da Igreja Visigoda, a Estrutura toda da Mesquisa árabe, e depois as capelas e altares da Catedral católica (a maioria da época barroca)... e tudo é um mesmo lugar... e monumental... e esses arcos dão um efeito de infinito (como em geral nos dá a arquitetura islâmica), de estar diante de algo inabarcável, incompreensível, maior do que se pode aglobar em uma imagem, uma idéia... lembro que logo que cheguei em Madri fui a uma exposição sobre M. Escher, ese falava muito da influência que teve em sua obra a visão da mesquita de Córdoba... estando lá, dá pra entender...
Mesquita de Córdoba (foto do André)
Idem
Neve
Esse post é só pra comemorar que conseguimos ver a neve na Sierra Nevada, em Granada...
Por acaso no dia em que fez menos frio e chuva na cidade, fomos comprar nosso bilhete de volta e vimos que saía um ônibus pra Serra Nevada... e fomos. Bem no dia em que estávamos com menos roupa de frio e ainda domingo, quando estava tudo fechado... o que salvou foram as lojas chinesas (as únicas que ficam abertas de domingo, e à noite, nos dias da semana), com luvinhas de cor vermelho-imperial baratinhas...
Na foto acima, esqui profissional na modalidade "pala" (o nome do instrumento utilizado para esta modalidade... cujo efeito colateral é deixar sua bunda totalmente molhada e congelada no final da brincadeira)
Por acaso no dia em que fez menos frio e chuva na cidade, fomos comprar nosso bilhete de volta e vimos que saía um ônibus pra Serra Nevada... e fomos. Bem no dia em que estávamos com menos roupa de frio e ainda domingo, quando estava tudo fechado... o que salvou foram as lojas chinesas (as únicas que ficam abertas de domingo, e à noite, nos dias da semana), com luvinhas de cor vermelho-imperial baratinhas...
Na foto acima, esqui profissional na modalidade "pala" (o nome do instrumento utilizado para esta modalidade... cujo efeito colateral é deixar sua bunda totalmente molhada e congelada no final da brincadeira)
Andalucía: Granada
Andalucía: Sevilla (Semana Santa)
Puff... essa foi a primeira viagem mais longa... muito especial. Agora que já passou, nem consigo descrever a importância enorme que teve. O amadurecimento, o encontro com um pouco do que sonhamos quando pensamos na Espanha (ao menos eu)... a aventura, o cansaço...
Eu e eu amigo André, conhecido aqui, companheiro de bolsa Santander, e de angústias, solidões, risadas... acampando pela primeira vez (pra economizar)... num camping a 15 km de Sevilla, cujo ônibus, numa das noites, resolveu nao passar, porque a rua estava tomada pela procissão (ah sim, fomos na Semana Santa)... no fim, depois de muitas horas aprendendo a conviver com o não-saber e a incerteza quanto a nosso destino rsrsrs (dormiríamos ali mesmo?... era melhor ir pra alguma festa?... pagar fortunas num taxi?)... o ônibus passa e chegamos no camping (até consegui dormir bem nessa noite... a barraca parecia tao melhor que um banco de praça, que o desconforto sumiu).
Paisagem de Castilla-La Mancha, no caminho rumo ao sul (pela foto vocês podem ver porque se cogita que essa paisagem suscitou a imaginação de Cervantes, pra criar o Quixote, como forma de preencher de vida essa "llanura" infinita...)
Eu e eu amigo André, conhecido aqui, companheiro de bolsa Santander, e de angústias, solidões, risadas... acampando pela primeira vez (pra economizar)... num camping a 15 km de Sevilla, cujo ônibus, numa das noites, resolveu nao passar, porque a rua estava tomada pela procissão (ah sim, fomos na Semana Santa)... no fim, depois de muitas horas aprendendo a conviver com o não-saber e a incerteza quanto a nosso destino rsrsrs (dormiríamos ali mesmo?... era melhor ir pra alguma festa?... pagar fortunas num taxi?)... o ônibus passa e chegamos no camping (até consegui dormir bem nessa noite... a barraca parecia tao melhor que um banco de praça, que o desconforto sumiu).
Paisagem de Castilla-La Mancha, no caminho rumo ao sul (pela foto vocês podem ver porque se cogita que essa paisagem suscitou a imaginação de Cervantes, pra criar o Quixote, como forma de preencher de vida essa "llanura" infinita...)
Vista da minha casa
Esse post é só pra vocês verem o lugar chique onde eu moro :)
Ou melhor, tenho morado, desde março até a próxima segunda...
Não são fotos do prédio em si, mas da vista do meu quarto.
Lado esquerdo da janela... se pode ver bem à esquerda o prédio do Museu Rainha Sofia (que depois eu descobri que é mal assombrado por fantasmas... e que muitos funcionários pediram transferência de lá e tudo... bom, só senti que fui visitado por companhias estranhas desse tipo uma vez...) Lado direito da janela: Estação de Atocha (daqui partem a maioria dos trens de Madrid)... onde eu pegava o trem pra ir a uma cidade vizinha dar aulas de direitos humanos pra adolescentes de 15 anos... mas essa é uma longa história...
Ou melhor, tenho morado, desde março até a próxima segunda...
Não são fotos do prédio em si, mas da vista do meu quarto.
Lado esquerdo da janela... se pode ver bem à esquerda o prédio do Museu Rainha Sofia (que depois eu descobri que é mal assombrado por fantasmas... e que muitos funcionários pediram transferência de lá e tudo... bom, só senti que fui visitado por companhias estranhas desse tipo uma vez...) Lado direito da janela: Estação de Atocha (daqui partem a maioria dos trens de Madrid)... onde eu pegava o trem pra ir a uma cidade vizinha dar aulas de direitos humanos pra adolescentes de 15 anos... mas essa é uma longa história...
Show Loreena McKennitt
A foto diz muito pouco (vocês podem imaginar que eu estava no lugar mais barato, e portanto, longe do palco)...
Um sonho realizado... ver de perto essa cantora cuja música me acompanhou em longas noites de choro, arrepios, viagens, sonhos, encatamento...
Deixo a letra de uma das músicas do show (que me faz lembrar de alguém especial... e é linda)
Caravanserai
Loreena McKennitt
This glancing life is like a morning star
A setting sun, or rolling waves at sea
A gentle breeze or lightning in a storm
A dancing dream of all eternity
The sand was shimmering in the morning light
And dancing off the dunes so far away
The night held music so sweet, so long
And there we lay until the break of day
We woke that morning at the onward call
Our camels bridled up, our howdahs full
The sun was rising in the eastern sky
Just as we set out to the desert’s cry
Calling, yearning, pulling, home to you
The tents grew smaller as we rode away
On earth that tells of many passing days
The months of peace and all the years of war
The lives of love and all the lives of fears
Calling, yearning, pulling, home to you
We crossed the river beds all etched in stone
And up the mighty mountains ever known
Beyond the valleys in the searing heat
Until we reached the caravanserai
Calling, yearning, pulling, home to you
Calling, yearning, pulling, home to you
What is this life that pulls me far away
What is that home where we cannot reside
What is that quest that pulls me onward
My heart is full when you are by my side
Calling, yearning, pulling, home to you
Calling, yearning, pulling, home to you
(Estou impressionado agora mesmo com como essa letra tem tudo a ver com o que tenho vivido...)
Um sonho realizado... ver de perto essa cantora cuja música me acompanhou em longas noites de choro, arrepios, viagens, sonhos, encatamento...
Deixo a letra de uma das músicas do show (que me faz lembrar de alguém especial... e é linda)
Caravanserai
Loreena McKennitt
This glancing life is like a morning star
A setting sun, or rolling waves at sea
A gentle breeze or lightning in a storm
A dancing dream of all eternity
The sand was shimmering in the morning light
And dancing off the dunes so far away
The night held music so sweet, so long
And there we lay until the break of day
We woke that morning at the onward call
Our camels bridled up, our howdahs full
The sun was rising in the eastern sky
Just as we set out to the desert’s cry
Calling, yearning, pulling, home to you
The tents grew smaller as we rode away
On earth that tells of many passing days
The months of peace and all the years of war
The lives of love and all the lives of fears
Calling, yearning, pulling, home to you
We crossed the river beds all etched in stone
And up the mighty mountains ever known
Beyond the valleys in the searing heat
Until we reached the caravanserai
Calling, yearning, pulling, home to you
Calling, yearning, pulling, home to you
What is this life that pulls me far away
What is that home where we cannot reside
What is that quest that pulls me onward
My heart is full when you are by my side
Calling, yearning, pulling, home to you
Calling, yearning, pulling, home to you
(Estou impressionado agora mesmo com como essa letra tem tudo a ver com o que tenho vivido...)
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