domingo, 2 de março de 2008

Mistérios da meia noite

Vincent Van Gogh (Noite Estrelada, 1888)



O Sono das Águas

"Há uma hora certa,
no meio da noite, uma hora morta,
em que a água dorme. Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d’água,
nos grotões fundos.
E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir...
Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
fios brancos, torrentes.
O orvalho sonha
nas placas da folhagem.
E adormece
até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes...
Mas nem todas dormem, nessa hora
de torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noite toda,
porque a água dos olhos
nunca tem sono... "
Guimarães Rosa

2 comentários:

Athena disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Athena disse...

A noite me d� medo. Medo mesmo, irracional. Me d� uma vontade de conversar com pessoas quando a noite chega, estar com algu�m - mas n�o tenho muito como fazer isso, ser escritora anti-social tem desses reveses. hehe
Nunca mais n�o existe quando duas pessoas realmente sentem algo de verdade. O orgulho se interp�e, mas sempre fica uma brecha, or menor que seja... Embora �s vezes n�o pare�a. :s
Um grande abra�o, Pedro! :)